sábado, fevereiro 21, 2009

O Azeite do Aeroporto


Publicado na edição de 21 de Fevereiro de 2009, Semanário SOL


Aos poucos, o “azeite” do novo aeroporto de Alcochete vem à tona da água. A publicitação das visionárias e oportunas aquisições de terrenos nas imediações do Campo de Tiro de Alcochete por representantes ou empresas do universo da Sociedade Portuguesa de Negócios (SLN), proprietária do Banco Português de Negócios (BPN), suscitam um conjunto de dúvidas. Não estamos falar de uma qualquer fantasia, mas de coincidências temporais entre o processo de contestação, determinados negócios e o abandono da opção Ota.
Em 1999, depois de cerca de 40 anos de estudos e análises sobre localizações alternativas para o Novo Aeroporto de Lisboa (NAL), o Governo confirmou a opção da Ota.
No início de 2007, o espectro de contestação à localização do Novo Aeroporto na Ota alargou-se, PSD e CDS-PP converteram-se à cruzada anti-Ota, um grupo de cidadãos, liderados pelo Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa, apresentou um estudo sobre uma nova opção, o campo de tiro de Alcochete. Um estudo que sensibilizou o Senhor Presidente da República e o Governo, cujos financiadores nunca foram totalmente publicitados.
Alimentado o clima de dúvida, promovida a campanha de contestação, suscitadas dúvidas pelo Senhor Presidente da República, o Governo encomendou ao LNEC uma análise comparativa que concluiu pela ligeira vantagem da zona do Campo de Tiro de Alcochete , do ponto de vista técnico e financeiro.
Em 8 de Maio de 2008, o Governo confirmou a nova localização, revogou as medidas preventivas aplicadas à Ota e aprovou novas medidas preventivas compreendendo o Campo de Tiro de Alcochete e uma área envolvente num raio de 25 km em vários concelhos.
Pelo meio, nesse fantástico ano de 2007, empresas associadas à SLN adquiriram vários hectares de terrenos no perímetro da antiga Herdade de Rio Frio, o último registado a 7 de Dezembro de 2007.
Naturalmente, não posso deixar de sublinhar que a campanha de contestação à Ota, sustentada na acção e na omissão de muitos protagonistas políticos e económicos, criou todas as condições para a especulação imobiliária e para o oportunismo visionário de quem soube antever os resultados finais do processo.
Obviamente que há factos que deveriam ser conhecidos, em nome da transparência do processo e para erradicar as dúvidas. Qual a lista integral de financiadores do decisivo estudo promovido pelo Presidente da CIP ? Entre os nomes dos financiadores não divulgados, estará alguma empresa ou alguém do universo da Sociedade Lusa de Negócios ? Estará o Banco Português de Negócios ?
Obviamente que deveriam ser conhecidos quem são os proprietários dos terrenos com mais de um hectare no território abrangido pelas medidas preventivas e nas imediações desse mesmo território.
Obviamente que deveria ser conhecido em que momento os principais terrenos no citado território foram transaccionados. Essas informações erradicariam a sensação suscitada pelos jornais da última semana que, na sociedade portuguesa, há um conjunto de circunstâncias que apuram a especial aptidão para o negócio de alguns cidadãos.
É da transparência de processos que estamos a falar, de estarmos colectivamente atentos à invocação do interesse comum para preencher apetências de interesses particulares. E neste processo, sem fantasias ou preconceitos, perpassa a sensação que ainda há muito para ser revelado sobre as motivações da contestação à Ota.
António Galamba
Deputado

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