Ao IGESPAR sobre o património da Fábrica Bordalo Pinheiro
A Fábrica Bordalo Pinheiro constitui um elemento central da identidade de Caldas da Rainha e dos Caldenses, sendo um inquestionável ponto de interesse cultural local, regional e nacional pelo que representa para o património cultural, para a cerâmica e para a preservação dos traços de afirmação de um território e das suas gentes. Repositório dos saberes de Rafael Bordalo Pinheiro de todos que com ele e depois dele projectaram a singularidade e beleza das peças de cerâmica nascidas da expressão criativa de vários mestres, a Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro assinalou o seu centenário com a confirmação das dificuldades da sua laboração, colocando em risco os postos de trabalho de mais de uma centena de trabalhadores e lançando dúvidas e ameaças sobre um amplo património cultural, não classificado, não inventariado e desprotegido de eventuais tentações lesivas do interesse comum.
Com a devida vénia para o Historiador, Prof. João Bonifácio Serra importa sublinhar as origens da actual Fábrica Bordalo Pinheiro:
“ A inauguração da Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro L.da teve lugar a 5 de Novembro de 1908.
Para situar a fundação desta nova manufactura é preciso recuar a Janeiro (23) de 1905, à data da morte de Rafael Bordalo Pinheiro. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, filho de Rafael, tomou conta dos destinos da unidade que seu pai dirigira desde 1884, denominada Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. A sucessão foi considerada natural. Manuel Gustavo há muito que colaborava com seu pai, nomeadamente na actividade gráfica. Sucedia porém que sobre a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha impendia uma velha hipoteca, no valor de 18 contos, contraída em 1889 junto de uma Sociedade que mais tarde a cedera ao Banco de Portugal. Em finais de 1906, decidiu este banco executar a dívida. Em Fevereiro de 1907, é realizado o auto de penhora, sendo apreendido o prédio da Fábrica. Em seguida, procedeu-se à sua venda em hasta pública, o que só veio a ser concluído a 12 de Janeiro de 1908, na 3ª hasta. Adquiriu a Fábrica de Faianças um investidor originário de Reguengos de Monsaraz, Manuel Augusto Godinho Leal, sogro de um médico do Hospital Termal das Caldas, Manuel António Martins Pereira. Godinho Leal era já proprietário de uma extensa área confinante com os terrenos da Fábrica de Faianças. Entre o novo proprietário da Fábrica e o filho e a viúva (Elvira Bordalo Pinheiro) de Rafael estalou de imediato um diferendo litigioso. Em causa estava a posse dos modelos e moldes, utensílios diversos, objectos e louças, livros, desenhos, ou seja o recheio dos edifícios. Os Bordalo Pinheiro entendiam que a hipoteca só abrangia o imóvel, pertencendo-lhes todos os bens móveis da empresa. Com esta questão entregue à justiça, Manuel Gustavo, com o apoio da sua mãe, requereu, a 24 de Fevereiro de 1908, autorização para montar uma nova oficina de cerâmica numa propriedade denominada "San Rafael". Esta propriedade, localizada nas imediações da Fábrica de Faianças, estava registada em nome de Helena Bordalo Pinheiro, também filha de Rafael. Manuel Gustavo dedicou a segunda metade do ano a organizar a nova unidade, a recrutar pessoal e a trabalhar em novos modelos. Para tal, contou com o apoio do Visconde de Sacavém, que colocou à sua disposição o Atelier Cerâmico que funcionava junto do seu palacete (hoje Museu de Cerâmica), distante, aliás, poucos metros de "San Rafael". A instalação concluiu-se em 5 de Novembro de 1908. A nova fábrica, ostentando na denominação o nome da família, Bordalo Pinheiro, foi durante muito tempo também conhecida por Fábrica "San Rafael". “.
A história da Cidade de Caldas da Rainha está cheia de tristes episódios de degradação e destruição de património histórico e cultural por desleixo, por desatenção ou por falta de iniciativa. É nesse contexto que se integra a presente iniciativa, salvaguardar o interesse público da dimensão patrimonial da Fábrica Bordalo Pinheiro, dos edifícios mas, sobretudo, dos moldes, das peças originais, dos desenhos e do todo o espólio com relevo para a preservação da memória, do exemplo e da inspiração de uma expressão artística singular. Não cuidamos neste plano de suscitar a segunda dimensão do problema, a salvaguarda do emprego e da viabilidade do projecto empresarial que está em avaliação no quadro do Ministério da Economia e Inovação. Não cuidamos também de avaliar o percurso de qualificação da Fábrica ao longo dos últimos anos, o perfil de gestão ou as estratégias de mercado adoptadas.
Neste plano, requere-se a intervenção urgente do IGESPAR na salvaguarda do património cultural da Fábrica Bordalo Pinheiro, no quadro da Lei nº 107/2001 , de 8 de Setembro, nos seguintes termos:
1) adopção de medidas provisórias previstas para bens classificados, ou em vias de serem classificados que corram risco de destruição, perda , extravio ou deterioração, aplicáveis aos moldes, desenhos e peças originais em posse da Fábrica Bordalo Pinheiro;
2) início do processo de inventariação dos bens móveis e imóveis da Fábrica Bordalo Pinheiro que representam um testemunho material com valor de civilização e de cultura;
3) início do procedimento destinado à classificação da Fábrica Bordalo Pinheiro e do seu recheio com valor patrimonial histórico e cultural como Conjunto de Interesse Nacional. Interesse nacional porque a preservação do legado de Rafael Bordalo Pinheiro, dos seus sucessores e dos seus seguidores, a protecção e valorização representam um valor cultural de significado para a Nação.
São Bento, 20 de Janeiro de 2009
O Deputado
António Galamba
Com a devida vénia para o Historiador, Prof. João Bonifácio Serra importa sublinhar as origens da actual Fábrica Bordalo Pinheiro:
“ A inauguração da Faianças Artísticas Bordalo Pinheiro L.da teve lugar a 5 de Novembro de 1908.
Para situar a fundação desta nova manufactura é preciso recuar a Janeiro (23) de 1905, à data da morte de Rafael Bordalo Pinheiro. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, filho de Rafael, tomou conta dos destinos da unidade que seu pai dirigira desde 1884, denominada Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. A sucessão foi considerada natural. Manuel Gustavo há muito que colaborava com seu pai, nomeadamente na actividade gráfica. Sucedia porém que sobre a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha impendia uma velha hipoteca, no valor de 18 contos, contraída em 1889 junto de uma Sociedade que mais tarde a cedera ao Banco de Portugal. Em finais de 1906, decidiu este banco executar a dívida. Em Fevereiro de 1907, é realizado o auto de penhora, sendo apreendido o prédio da Fábrica. Em seguida, procedeu-se à sua venda em hasta pública, o que só veio a ser concluído a 12 de Janeiro de 1908, na 3ª hasta. Adquiriu a Fábrica de Faianças um investidor originário de Reguengos de Monsaraz, Manuel Augusto Godinho Leal, sogro de um médico do Hospital Termal das Caldas, Manuel António Martins Pereira. Godinho Leal era já proprietário de uma extensa área confinante com os terrenos da Fábrica de Faianças. Entre o novo proprietário da Fábrica e o filho e a viúva (Elvira Bordalo Pinheiro) de Rafael estalou de imediato um diferendo litigioso. Em causa estava a posse dos modelos e moldes, utensílios diversos, objectos e louças, livros, desenhos, ou seja o recheio dos edifícios. Os Bordalo Pinheiro entendiam que a hipoteca só abrangia o imóvel, pertencendo-lhes todos os bens móveis da empresa. Com esta questão entregue à justiça, Manuel Gustavo, com o apoio da sua mãe, requereu, a 24 de Fevereiro de 1908, autorização para montar uma nova oficina de cerâmica numa propriedade denominada "San Rafael". Esta propriedade, localizada nas imediações da Fábrica de Faianças, estava registada em nome de Helena Bordalo Pinheiro, também filha de Rafael. Manuel Gustavo dedicou a segunda metade do ano a organizar a nova unidade, a recrutar pessoal e a trabalhar em novos modelos. Para tal, contou com o apoio do Visconde de Sacavém, que colocou à sua disposição o Atelier Cerâmico que funcionava junto do seu palacete (hoje Museu de Cerâmica), distante, aliás, poucos metros de "San Rafael". A instalação concluiu-se em 5 de Novembro de 1908. A nova fábrica, ostentando na denominação o nome da família, Bordalo Pinheiro, foi durante muito tempo também conhecida por Fábrica "San Rafael". “.
A história da Cidade de Caldas da Rainha está cheia de tristes episódios de degradação e destruição de património histórico e cultural por desleixo, por desatenção ou por falta de iniciativa. É nesse contexto que se integra a presente iniciativa, salvaguardar o interesse público da dimensão patrimonial da Fábrica Bordalo Pinheiro, dos edifícios mas, sobretudo, dos moldes, das peças originais, dos desenhos e do todo o espólio com relevo para a preservação da memória, do exemplo e da inspiração de uma expressão artística singular. Não cuidamos neste plano de suscitar a segunda dimensão do problema, a salvaguarda do emprego e da viabilidade do projecto empresarial que está em avaliação no quadro do Ministério da Economia e Inovação. Não cuidamos também de avaliar o percurso de qualificação da Fábrica ao longo dos últimos anos, o perfil de gestão ou as estratégias de mercado adoptadas.
Neste plano, requere-se a intervenção urgente do IGESPAR na salvaguarda do património cultural da Fábrica Bordalo Pinheiro, no quadro da Lei nº 107/2001 , de 8 de Setembro, nos seguintes termos:
1) adopção de medidas provisórias previstas para bens classificados, ou em vias de serem classificados que corram risco de destruição, perda , extravio ou deterioração, aplicáveis aos moldes, desenhos e peças originais em posse da Fábrica Bordalo Pinheiro;
2) início do processo de inventariação dos bens móveis e imóveis da Fábrica Bordalo Pinheiro que representam um testemunho material com valor de civilização e de cultura;
3) início do procedimento destinado à classificação da Fábrica Bordalo Pinheiro e do seu recheio com valor patrimonial histórico e cultural como Conjunto de Interesse Nacional. Interesse nacional porque a preservação do legado de Rafael Bordalo Pinheiro, dos seus sucessores e dos seus seguidores, a protecção e valorização representam um valor cultural de significado para a Nação.
São Bento, 20 de Janeiro de 2009
O Deputado
António Galamba
1 comentário:
Só espero que o "nosso" Governo, que deve intervir, preservando o património e s própria Fábrica Bordalo Pinheiro, não cometa o disparate de manter a actual Asministração. Seria puro "suicídio" e deitar dinheiro fora, tal a ineptidão revelada pelos responsáveis pelo "enterro" daquela instituição nos últimos 15 anos, pelo menos.MP
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