terça-feira, junho 17, 2008

Do folclore artificial das manifestações....



Tenho o maior respeito pelos cidadãos que, de forma genuína, convicta e ordeira, se manifestam em defesa das suas expectativas, dos seus direitos ou na denúncia de problemas que os afectam ou que afectam as comunidades. Mas esse respeito não é extensível, às manipulações das manifestações, aos espectáculos de contestação montados para a projecção mediática, para a instrumentalização de instituições de referência da Democracia, como os sindicatos, ou para o aproveitamento despudorado que o PCP faz da falta de memória ou da falta de preparação de uma determinada comunicação social. Não não sou dos que acha que todos os que se manifestam são do PCP. E até reconheço a existência de razões de queixa pela destruição de expectativas que se tinham convertido em direitos, mas não embarco em fantochadas: Sim fantochadas montadas pelo PCP para explorar os sentimentos populares de descontentamento. E concretizo.



Para os media, foi montado uma espécie de buzinão multipolar por um denominado Movimento de Utentes dos Serviços Públicos. Utentes dos Serviços Públicos que protestaram hoje, com o auxílio instrumental da CGTP, portanto de um Sindicato, contra o preço dos combustíveis. A vetusta liderança do Movimento, que diz representar os utentes dos Serviços Públicos, é uma personagem que conheço há muitos anos. É um destacado militante do PCP de Vila Franca de Xira, o Senhor Carlos Braga, ex-Presidente da Junta de Freguesia de Vialonga. Sim autarca de Freguesia, nos tempos em que o PCP detinha o poder no Município de Vila Franca de Xira e esmagava qualquer esboço de genuína iniciativa dos cidadãos do concelho, através dos esquemas de instrumentalização, ostracização e controle ao alcance do centralismo democrático comunista. Pois é, afinal o insuspeito defensor dos utentes é um protagonista do PCP, ao serviço de uma estratégia político-partidária, travestido de protagonista de uma cidadania esclarecida, empenhada e imparcial. E o mais espantoso é que ninguém da imprensa questiona nada. Se um partido quer fazer uma iniciativa mais tarde ou mais cedo terá a Entidade Fiscalizadora das Contas a questionar o financiamento, estes movimentos vivem à margem de qualquer escrutínio sobre o financiamento da sua actividade. E se é certo que a intervenção política, cívica , sindical ou outra é um direito que conquistámos com a Revolução dos Cravos, não é menos certo que se exige verdade, rigor e transparência.



Verdade e Rigor que também não se manifestam na protagonista do incrível Movimento para a Mobilidade Sustentável no IC 19, a Senhor Guadalupe Gonçalves. A ex-líder do Movimento de Utentes do IC19 está de regresso. Durante o mandato de Edite Estrela na liderança da Câmara Municipal de Sintra foi um exemplo de intervenção cívica em defesa dos utentes do IC 19, conseguiu um lugar nas lista do PCP, perdão CDU, ao Município. Eleita Vereadora, o Presidente Fernando Seara, do PSD, conferiu-lhe o pelouro do trânsito. E a Senhora eclipsou-se, tamanha era a responsabilidade de ter uma intervenção concreta , diária e consequente nas condições de mobilidade dos cidadãos do Município de Sintra. Pelo meio, o PCP ter-se-à zangado com a ausência de trabalho concreto e a Senhora deixou de ser Vereadora, eclipsando-se ainda mais. Mas eis senão, a um ano de eleições, regressa a protagonista com a mesma pujança, como se não tivesse tido nenhuma responsabilidade. Como se fosse um cidadão na simples defesa dos seus direitos, sem qualquer interesse político-partidário.

São dois casos que inquinam o legítimo direito à manifestação, à indignação ou à proposta de soluções alternativas. São dois casos que revelam bem que o PCP não olha a meios para promover a agitação popular e que o faz, com particular gozo e motivação quando o Governo é do PS. Aliás, não é nada de estranho porque o seu aliado autárquico preferencial é mesmo o PSD...


Isto tudo para sublinhar que, respeitando e compreendendo as legítimas motivações dos cidadãos descontentes que se manifestam, não embarco na verdade que nos querem vender através dos meios de comunicação social e, sobretudo, tenho uma particular preocupação com aqueles que estão a atravessar sérias dificuldades pessoais, familiares e profissionais, sem embarcarem na espuma de muitas das contestações arquitectadas. É a pensar nesses que procuro dar um contributo político, cívico e social através das minhas actividades, na Assembleia da República, na Câmara Municipal de Caldas da Rainha ou na IPSS de Salir de Matos. É a pensar nesses que o País deve prosseguir o esforço superação de uma crise com contornos invulgares, que sublinham as nossas fragilidades colectivas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu gostei particularmente na comissão da "mobilidade sustentável" - que pelo nome deveria defender transportes públicos em vez de transporte privado - a berrar contra portagens e por mais auto-estradas.

Pegam num nome com o tema "da moda", julgando talvez que isso lhes dá mais autoridade moral, para depois berrarem o mesmo de sempre..