domingo, abril 13, 2008

O CCC e os desafios para o futuro

Os vereadores do Partido Socialista na Câmara Municipal das Caldas da Rainha sempre assumiram, no seu programa de acção política, também nas diversas intervenções e propostas apresentadas em sede da vereação municipal, que a cultura deveria assumir-se, no nosso concelho, como um dos principais eixos matriciais da actividade política e económica a ser desenvolvido prioritariamente pelo executivo municipal caldense.
Com efeito, na nossa perspectiva, a cultura deverá assumir-se como a via fundamental para a promoção de uma acção política e económica no nosso concelho, visando a melhoria qualitativa das condições de vida dos nossos munícipes, o nosso desenvolvimento educacional, o bem estar cultural das populações residentes e a afirmação das Caldas da Rainha enquanto cidade distinta, culta e dinâmica.
Ao pugnarmos pela colocação da cultura no centro das atenções e intenções dos programas políticos de acção e de intervenção municipais, pretendemos despoletar a proliferação de mudanças políticas na gestão municipal, almejamos ocupar os espaços vazios proporcionados pela falência de alguns dos sectores produtivos tradicionais e pela tendência verificável nos últimos tempos no desinvestimento realizado pelos vários governos nacionais nas políticas culturais regionais, deixando às autarquias a responsabilidade de serem elas a assumirem a gestão e dinamização de equipamentos culturais, tais como as bibliotecas, os teatros e outros equipamentos/valências culturais.
A próxima inauguração do CCC deverá possibilitar o agendamento político de uma reflexão e discussão sobre a criação de corredores criativos, que alguns municípios têm vindo a implementar e que as Caldas da Rainha teimam em não discutir, adiando o seu debate e impedindo a sua implementação, devendo assumir-se como uma das apostas mais promissoras para o nosso futuro próximo comum, importando pois colocá-la na agenda política local e implementá-los, corredores urbanos criativos, como recurso propiciador de sustentabilidade económica e marca de referência regional.
Segundo todos os dados disponíveis e prospectivados, veja-se, a propósito, as conclusões exaradas dos vários seminários realizados sobre políticas culturais autárquicas, nomeadamente os que estão a ser promovidos pela Fundação de Serralves, a decorrerem até Outubro na cidade do Porto, dos quais ressaltam as seguintes constatações: no Portugal de hoje, são as autarquias locais que mais investimentos têm realizado nas políticas culturais; a generalidade das autarquias nacionais não desenvolvem políticas culturais subordinadas a análises prospectivas, sujeitas a planeamentos cuidados e a dinâmicas regulares, ficando, assim, à mercê de vontades conjunturais e calendários políticos e, por último, tais políticas encontram-se circunscritas às disponibilidades financeiras dos magros orçamentos financeiros municipais, muitas delas sendo apenas estimulados pelo efeito efémero das dinâmicas propiciadas pelos fenómenos regionais de simples mimese propagado por outras autarquias vizinhas.
A anunciada inauguração do CCC obriga-nos a reflectir sobre qual será o seu futuro estatuto e as valências culturais que convém nele implementar. A indefinição política do seu modelo de gestão e a sua não utilização enquanto espaço cultural público, aberto e participado, poderá impossibilitar o seu sucesso, originando, desse modo, o seu esvaziamento funcional, remetendo-o inapelavelmente para uma intervenção circunscrita a eventos pontuais, possivelmente decorrentes da oferta disponibilizada pela rede “Território Artes”, remetendo-se assim à tradicional e estática dimensão camarária, autista e desorçamentada, encerrando a janela de oportunidade gerada pela construção do “edifício” e ofuscando todas as legítimas expectativas criadas pelo vultuoso investimento realizado pelo município nos últimos três anos.
Para implementarmos uma política cultural consentânea com um modelo de gestão eficiente, baseado na sua máxima rentabilidade cultural, polarizador de uma verdadeira dinâmica cultural, é fundamental adoptar um modelo de gestão dotado de autonomia administrativa, desenvolver um modelo organizacional dotado dos recursos humanos e financeiros necessários à mobilização de uma programação cultural heteróclita, aberta a todos os públicos, indo, desse modo, ao encontro dos interesses de todos os públicos e à instauração de uma literacia cultural benfeitora de uma verdadeira cidadania pró-activa.
Um modelo de gestão que não fique refém dos orçamentos municipais, das flutuações de humor do seu presidente e dos fenómenos recorrentes de carácter mimético, implicará a implementação de uma politica cultural mobilizadora dos munícipes e a afirmação das Caldas da Rainha enquanto cidade criativa, geradora de um conjunto de oportunidades empreendedoras no domínio das artes criativas.
Este é o grande desafio e a nossa grande oportunidade de asseverarmos a tradição cultural das Caldas da Rainha, enquanto cidade de e das artes, metamorfoseando-a como paradigma cultural regional e nacional.
A convocação dos nossos melhores recursos profissionais, o estabelecimento de parcerias e protocolos com entidades que, a nível regional (ESTGAD), nacional (Ministério da Cultura, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação Serralves, Fundação Berardo) e, a nível internacional (porque não o MOMA e outras instituições internacionais?), possibilitará a criação de um Grande Centro Cultural de referência a nível nacional e internacional.
Conclui-se agora a parte mais fácil do projecto Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. O verdadeiro desafio começa agora, sendo que os nossos votos e desejos sinceros é que tenhamos mais “Centro Cultural” e menos “Centro de Congressos”, tenhamos uma taxa de realização de eventos culturais e sociais que justifique o grande investimento realizado e corresponda às expectativas dos caldenses que aguardam ansiosamente a sua abertura desde o encerramento do antigo Teatro Pinheiro de Chagas.

António Galamba
Nicolau Borges

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